Desisti de olhar as estrelas.
De sentir a chuva. Ela me fazia bem...ela me fortalecia.
E me fazia mal. Me despedaçava.
Benção e maldição. E eu queria ser amaldiçoado.
E agora, o que fazer sem estrelas e chuva?
Chegar até o céu perde a graça sem algo para alcançar.
Sair andando por aí perde a graça, sem se levar um bom banho para lavar a alma.
Será que ainda tenho alma? Sim, e não...aquilo era minha alma. Ou parte dela. Ela...não se foi, mas desistir de uma parte de
sua alma é algo exótico, interessante...e...doloroso. Deixa um espaço vazio.
Será que ainda me sobrou algo além do enorme espaço vazio?
Não. Por que não há espaço vazio. Estou apenas considerando-o assim.
O conteúdo ainda reside aqui. Por isso não há como preencher o vazio. Ele já está cheio.
E não sobra espaço para nada. Deve ser isso...tenho um vazio cheio. Deve ser pior que ter um vazio vazio. Podemos encher um
vazio vazio. Um vazio cheio não.
Não sei até quando vou conviver com o vazio cheio... mas no momento é preciso.
Ah, claro, há uma parte ruim disso. É que para tudo falta algo. Tudo fica meio amputando.
Mas os amputados tem dois caminhos:
1- regeneração.
2- sobreviver amputado.
Não faço ideia de qual caminho tomei. Afinal, não tinha luz de estrelas nem rastros de chuva nem nada para mostrar caminho
algum. Tomei qualquer um às cegas. Se eu chegar ao final, entenderei qual foi.
Tenho apenas um palpite sobre o caminho tomado. Esperar que o vazio cheio amputado volte a ser parte do todo. Que a chuva
torne-se tempestade para lavar esse mundinho cinza onde me enfiei. Um mundo com tudo, onde nada agrada totalmente por que
falta uma coisinha trivial. Maldição e benção, as coisinhas triviais e super importantes. Ser maldição ou benção depende
apenas da coisinha estar conosco ou não estar. Por enquanto, ando fraco, sem inspiração, sujo, amputado, e com um vazio
cheio. Mas ainda consigo andar. Ainda consigo respirar. Que recomece o ciclo, e que por favor, não seja igual ao que
terminou.
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